Alvalade é uma vila e freguesia do concelho de Santiago do Cacém, situado na sub-região Alentejo Litoral e no Distrito de Setúbal. A vila, sede de freguesia, ergue-se na extremidade do planalto que separa o vale do Sado do vale de Campilhas. Pode-se chegar a Alvalade através do IC 1 (ligação entre Lisboa e o Algarve) saindo junto da Mimosa.
Pertencem a Alvalade os lugares da Mimosa, Quinta dos Mudos, Carapetal, Daroeira, Conqueiros, Vale de Lobo, Borbolegas, Fontainhas e outros pequenos pontos habitados.
Síntese histórica
A fertilidade dos solos, os cursos de água existentes e a caça abundante que estas terras hospedavam (javalis, veados, lebres, coelhos, mas também lobos, raposas, ginetos e texugos) fizeram da actual freguesia alvaladense um território muito apetecido desde o Mesolítico (8 mil anos atrás). Desse interesse e ocupação humana resultariam sucessivos vestígios de povoamentos, e múltiplos reclamantes territoriais.
Em maior abundância encontram-se os achados e testemunhos da colonização romana, de que são exemplo os diversos vestígios e estruturas de villae existentes um pouco por toda a freguesia (Ameira, Defesa, Conqueiros e Roxo). Na área de influência e sob a jurisdição da civitas Miróbriga, as produções das terras de Alvalade asseguravam uma boa parte dos produtos agrícolas e pecuários necessários ao consumo e comércio da velha cidade romana.
Porém, enquanto povoação, Alvalade deve o seu nascimento à ocupação muçulmana, que lhe deu o nome. Em Espanha, o étimo árabe al-balat deu origem a diversos topónimos (Albalá, Albalat e Albalate) e em Portugal ao topónimo Alvalade, que em alguma documentação medieval surge como Albalat, Alvalat, Albalad e Alvalad. A grande novidade dos últimos estudos publicados e/ou teses defendidas prende-se com a tradução do vocábulo al-balat que, segundo alguns investigadores, significa ¿o caminho¿, ¿a via¿, ¿a calçada¿ (Jorge Feio também já o tinha defendido no estudo "A Ocupação Romana em torno de Alvalade: Novos Dados"), o que, aparentemente, seria consistente com a particular localização geográfica de Alvalade, onde se encontram e cruzam diversas vias importantes desde a época romana e de que ainda subsiste a ponte na ribeira de Campilhas sobre a antiga ligação entre Miróbriga e Vipasca (Aljustrel).
As primeiras casas, que formariam o primeiro conjunto urbano de Alvalade, terão sido levantadas na zona das actuais ruas de Lisboa, Atrás dos Quintais, e Largo do Cerro do Moinho, na extremidade norte do planalto que domina a junção dos vales do Sado e Campilhas, uma posição privilegiada que permitia controlar o rio Sado e a ribeira de Campilhas e algumas franjas de cultivo das imediações, elementos importantes dos quais dependeria a sobrevivência do pequeno povoado.
Somente após a tomada da praça de Aljustrel aos mouros, em 1234, no reinado de D. Sancho II, pelos destemidos cavaleiros da Ordem Militar de Santiago da Espada encabeçados por D. Paio Peres Correia, é que Alvalade se tornaria definitivamente terra portuguesa.
Em 1273 o rei D. Afonso III doou Alvalade à Ordem de Santiago, que aqui estabeleceu a cabeça de uma das suas comendas.
Nos Estabelecimentos de D. Pero Escacho, Mestre da Ordem de Santiago, promulgados a 26 de Maio de 1327 na sequência da ruptura e independência dos espatários portugueses em relação a Castela, surge a primeira referência conhecida à comenda de Alvalade, e são regulamentadas as rendas que o respectivo comendador poderia usufruir.
Em 20 de Setembro de 1510 o rei D. Manuel I concede foral a Alvalade, conferindo-lhe o estatuto de concelho com independência administrativa e judicial. Algum tempo depois é construído e erguido o pelourinho no centro da actual Praça D. Manuel I.
O primeiro recenseamento da população de Portugal, efectuado por ordem do rei D. João III, decorrido entre 1527 e 1533, quantifica a população do concelho de Alvalade, nessa época, em 133 vizinhos (80 dentro da vila e 53 no termo) perfazendo um total aproximado de 600 habitantes.
Na segunda metade do século XVI seria fundada a Santa Casa da Misericórdia, que assimilaria o pequeno hospital medieval do Espírito Santo, originando alterações significativas no quadro assistencial local. A Igreja da Misericórdia, cuja construção foi concluída em 1570, permanece como testemunho dessa época.
Em finais do século XVII o curato de Nossa Senhora do Roxo (criado em meados do século XVI), dá origem à formação da freguesia do Roxo, surgindo assim a primeira e única divisão administrativa no concelho de Alvalade.
O grande terramoto de 1 de Novembro de 1755 provocou danos avultados na vila, destruindo grande parte do casario, na maioria formado por pequenas habitações de um só piso, construídas em taipa. As igrejas e ermidas sofreram igualmente estragos significativos. O pelourinho cairia também por terra.
Mais demolidores que o terramoto foram os efeitos provocados pela Revolução Liberal¿ Na região era conhecida a simpatia política das instituições alvaladenses pelo regime absolutista, posição oficialmente assumida em 9 de Outubro de 1831, data em que o concelho jura fidelidade ao rei D. Miguel I. Considerado um pequeno bastião miguelista na região, tal circunstância obrigaria o Duque da Terceira, na sua marcha sobre Lisboa, a entrar na vila no dia 18 de Julho de 1833 afim de converter o concelho à causa liberal. A câmara e as principais instituições alvaladenses são chamadas aos velhos paços do concelho, onde são coagidas a renunciar o apoio a D. Miguel, acabando por aclamar D. Maria II também como sua soberana. Contrariar e enfrentar o Duque da Terceira e o seu contingente militar, poderia, naquela época conturbada, pagar-se com a própria vida. Eram assim os tempos da Guerra Civil de 1832/34.
Após a vitória militar do Partido Liberal, e convencionados os acordos (ou melhor, as concessões) de Évoramonte, D. Miguel pernoita em Alvalade no dia 31 de Maio de 1834, quando efectuava o trajecto entre Évora e Sines, que o levaria para o seu derradeiro exílio. Apesar de deposto e fortemente contestado em grande parte do país, D. Miguel é recebido e acolhido na vila com grande respeito e deferência. Alvalade ficaria registada como a terra onde em vida o Rei Absoluto passaria a sua última noite em território português.
A implantação do Liberalismo acabaria por provocar uma nova divisão administrativa do território nacional, e dita a extinção do concelho de Alvalade em 6 de Novembro de 1836. Em resultado desta decisão político-administrativa, Alvalade e o Roxo são incorporadas como freguesias no vizinho concelho de Messejana.
Em 24 de Outubro de 1855, na sequência da extinção do concelho messejanense, Alvalade transita para o concelho de Aljustrel.
Em 1860, vinte e quatro anos depois de ter perdido a sua autonomia administrativa, Alvalade regista apenas 620 habitantes, divididos por 180 fogos. Os efeitos das crises decorrentes da Revolução Liberal e da supressão do concelho, fizeram com que Alvalade perdesse metade da população e de grande parte da sua força de trabalho. A frágil economia local ressente-se e vivem-se momentos dramáticos de pobreza e miséria. Desgovernada e sem qualquer orientação administrativa que enfrente a crise, e vivendo o pior período da sua existência, Alvalade sofre um novo golpe a 4 de Julho de 1861, perdendo mais uma das suas seculares instituições com a extinção da Santa Casa da Misericórdia, decidida pelo Governo Civil de Beja.
Finalmente, no dia 18 de Abril de 1871, Alvalade muda novamente de administração concelhia, integrando desde então o concelho de Santiago do Cacém e iniciando uma nova fase na já longa vida da freguesia alvaladense.